diagnóstico tardio em autismo, autismo em adultos, tea em adultos, como é o autista adulto, autismo nível 1, características do Asperger, como ajudar autista adulto, terapia para autistas nível 1

Se você está neste post, provavelmente já possui ou está na luta pelo diagnóstico de autismo, e escrevo este com o objetivo de lhe trazer autoconhecimento  sobre as necessidades e também as capacidades comuns entre pessoas autistas de diagnóstico tardio, para que assim possa iniciar uma nova caminhada mais leve, mais esclarecida e de aceitação. E desse modo, mais  fortificado para poder buscar ajuda especializada se essa for sua vontade.

 

Autismo em adultos: um caminho de autoconhecimento

A pessoa autista que passa pela infância e adolescência sem um diagnóstico, cria estratégias de sobrevivência que vão mascarando suas características atípicas.  Contudo, isso sempre tem um custo enorme. Essa pessoa continua com as dificuldades de sua condição, e por não compreendê-las foi gerando uma bola de neve de cada vez mais dor. Até que chega o momento em que  desenvolve várias doenças como depressão, Burnout, ansiedade, compulsões alimentares e tantos outros transtornos.

Quando essa pessoa entra em contato com vídeos, textos, experiências sociais que trazem características e esclarecimentos sobre o autismo em adultos, uma luz de compreensão desperta em si. Pela primeira vez na vida ela pensa: “Isso tudo me descreve, e se eu for autista?” E nesse momento, muitas de suas dores do passado começam a ter uma explicação e tudo que ela quer é realmente saber quem é.

Em minha experiência na psicologia clinica e pessoal (com familiares próximos) o diagnóstico de autismo em adultos costuma ser um caminho árduo repleto de sofrimentos, medos, dúvidas; e principalmente de negativas e depreciação. Pois ao procurar ajuda de profissionais ou mesmo familiares, sem o conhecimento especializado no assunto, é costumeiro que estes menosprezem o possível autista e diga coisas como: “Você não pode ser autista, você conversa bem”, “Um autista olhando nos olhos? Claro, que você não é autista.”, “Você trabalha, tem relacionamentos e amigos, você não é autista”, “Agora tudo é autismo.” E nesse momento se inicia uma luta da pessoa autista para realmente ser ouvida, para ter um diagnóstico adequado e, a partir disso, ver-se como completo pela primeira vez.

Por fim após tanta luta, o diagnóstico tem um gostinho de libertação, quando a pessoa ao receber o laudo de autista valida todas aquelas sensações de não pertencimento e de que era diferente. Ao mesmo tempo gera medos e dúvidas sobre quem ela é realmente: quais características são dela, e quais são do espectro autista? Que dificuldades ela possui que não tinha percebido? Esses sentimentos misturados de alegria, ansiedade e receios são normais.

 

O que fará com que os sentimentos e pensamentos se equilibrem é o autoconhecimento, pois a partir deste você descobre o que melhor funciona para cada característica sua e quais estratégias podem ser usadas para que o sofrimento anterior se transforme em potencialidades que irão lhe proporcionar uma vida mais leve, organizada e plena.

 

A psicoterapia feita em parceria de um profissional conhecedor do TEA, é uma fonte importante nesse processo para guiá-lo e ajudá-lo a chegar mais rapidamente em seus objetivos. (confira o post de como a psicoterapia pode te ajudar)

Trago abaixo algumas características comuns em pessoas autistas com diagnóstico tardio, que muitas vezes são erroneamente compreendidas e por isso causam sofrimentos além do que precisavam.

 

Conheça as principais características do autismo em adultos:

O primeiro passo para o autoconhecimento e apropriar-se como pessoa autista é saber as principais características, que de modo geral, são compartilhadas entre pessoas com TEA. Não me concertarei aqui naquelas características básicas, que podem ser lidas no guia dos diagnósticos de saúde mental, DSM-5  (encontrado em uma pesquisa rápida na internet). E sim naquelas características que por vezes passam despercebidas pela população leiga, mas que causam grande sofrimento e necessitam de adaptações por parte da pessoa autista.

Algo importante salientar é que ao contrário do que se afirmava no passado, atualmente sabemos que o transtorno do espectro autista não caracteriza uma doença, mas sim uma variação do funcionamento típico do cérebro. O que chamamos de cérebros neurdivergentes (assim também como no caso de pessoas com TDAH e/ou superdotação), e por isso não são realmente sintomas e sim modos de percepções e captações diferentes do mundo ao redor que podem trazer algumas dificuldades ou facilidades conforme seus contextos ambientais e intensidades pessoais.

 

1. Hiperfoco:

O hiperfoco é uma das características marcantes do autismo. É uma forma de hiperatividade que se dá no campo da atividade mental, e não na psicomotora (embora as duas possam existir ao mesmo tempo). Ou seja, um interesse constante e focado em determinado assunto. Esses focos podem ir mudando conforme o tempo, ou pode permear o mesmo a vida toda.

Esse interesse focado pode ser útil para construir uma vida acadêmica gratificante ou para se tornar um trabalhador muito especializado. Pois a pessoa com TEA irá procurar conhecer os mínimos detalhes daquele assunto, podendo passar horas sem parar aprimorando esse conhecimento. E costuma ser um bom explicador desse tema, podendo ensinar outros sobre esse.

Um cuidado necessário diante do hiperfoco é criar estratégias que garantam tempos de pausa para que a pessoa não esqueça de comer e mesmo de dormir, e que com o tempo possa também equilibrar esse hiperfoco com outras áreas da vida. É comum que ao entrar no hiperfoco a pessoa deixe de lado outas interações e situações, por não estarem relacionadas ao assunto do seu interesse. Outro cuidado necessário é quando o hiperfoco envolve situações que possam colocar a pessoa em dificuldades financeiras (por comprar tudo sobre o tema) ou mesmo de saúde (quando é algo perigoso).

 

2. Resolvedores de problemas – percepção de padrões

Essas duas características se complementam, a pessoa autista costuma observar os padrões ao seu redor com mais detalhes que as pessoas típicas. E isso faz com que o autista perceba pequenas mudanças, identifique algo que está errado ou mesmo se afete mais quando os padrões não ocorrem como esperado. E isso é perfeito para várias situações em que seja necessário alguém para identificar esses erros e poder sugerir novas estratégias, e assim resolver o problemas.

Assim as pessoas autistas costumam se sentir bem quando estão solucionando problemas o que pode ser ótimo no trabalho e mesmo para impulsionar questões científicas gerando novas descobertas.

Contudo essa característica pode causar alguns desentendimentos ao ser aplicadas nas interações interpessoais. Pois nem sempre parceiros e familiares procuraram uma conversa com o objetivo de “resolver um problema”, muitas vezes apenas querem ser ouvidos. Além das interações serem cheias de camadas de não ditos, o que torna difícil encaixá-las em um padrão. Dificultando a comunicação entre pessoas.

Junto também, a isso, uma frustração do TEA quando os padrões já conhecidos mudam o fazendo sentir-se perdido naquela situação. Por exemplo, quando mudam uma sala de trabalho, uma embalagem de sua comida preferida.

 

3. Necessidade de previsibilidade

Aqui se relaciona bastante com a característica a cima, sendo um pessoa mais sensível à padrões a pessoa autista costuma apresentar sinais de ansiedade quando esses padrões mudam. E desse modo é um tipo de indivíduo que se apega bastante a necessidade de previsibilidade, e por isso sente-se confortável  em seguir as mesmas rotinas, fazer os mesmo caminhos até o trabalhos, comer nos mesmos lugares, querer fazer as coisas de modo sempre iguais seguindo as mesmas etapas. Além de necessitarem serem avisados com antecedência de situações como reuniões, consultas médicas, passeios par conseguirem se prepararem para estes; desde analisando possíveis rotas a seguir como possíveis tópicos de conversa.

Esse medo de não saber agir ou quais os resultados esperar diante da mudança, mesmo que de pequenos pontos, faz com que a inflexibilidade psicológica se amplie. E a pessoa fica cada vez mais apegada ao mesmo e pode entrar em grande sofrimento quando algo inesperado acontece. Podendo agir com ansiedade, descontrole emocional ou mesmo se isolando para evitar passar por essas imprevisibilidades da vida.

Essa é uma características que pode ser fonte de sofrimento quando muito intensa e não trabalhada em terapia (ou através de outros suportes). A tratamento nestes casos visa, não a tirar esse conforto de previsibilidade e rotina da pessoa, e sim, do aprendizado de estratégias de como lidar melhor quando as coisas imprevisíveis acontecem. E na vida, elas sempre surgem.

 

4. Sensibilidades sensoriais

A maioria da pessoas autistas possuem algum tipo de alteração sensorial, e essas costumam ser as maiores responsáveis por desencadearem crises e descontrole emocional. Pois a pessoa tem um sofrimento físico que nem sempre consegue identificar a causa e vai ficando cada vez mais cansada, irritada e confusa; até que seu corpo entre em sobrecarga podendo ocasionar um meltdown (explosão) ou Shutdown (desligamento)

 

Meltdown: A crise é “externa”, se assemelhando a um colapso nervoso. Geralmente, acontecem em situações que provocam um aumento muito grande de ansiedade. Diante disso, a pessoa pode ter acessos de raiva e/ou ataques de pânico bastante agressivos, crises de choro, provar machucados, sair correndo… entre outros comportamentos explosivos e descontrolados.

 

Shutdown: A crise é interna, como um “apagão”. Diante de uma situação de muito estresse e sobrecarga, a pessoa se fecha, e pode apresentar comportamentos como o mutismo seletivo, olhar vazio e paralisação. A pessoa pode ficar sem saber onde está, como voltar para casa ou mesmo perder o controle de seu corpo e não conseguir se mover.

 

As sensibilidades podem ser para mais, ou seja a pessoa ouve como alto sons que os outros nem percebem, luzes irritam seus olhos com mais facilidade, o calor ou frio é sentido com maior intensidade, etiquetas nas roupas ou tipos de tecido parecem arranhar a pele, sabores e texturas de alimentos são impossíveis de serem engolidos, cheiros podem ser nauseantes, um foco de dor no corpo pode ser sentido como sendo no corpo inteiro. E isso explica, em parte, por que muitos autistas sentem-se cansados e irritados em locais com muitos estímulos como shoppings, mercados, escolas… Ou possuem seletividade alimentar e tem dificuldades em escolher roupas que lhe sejam confortáveis.

Mas a pessoa também pode ser hipo-sensível e isso pode colocar a pessoa em risco de vida, quando não sente uma dor em seu corpo, ou não percebe a sensação de cede ou fome. Além de, ser comum, que a pessoa sinta-se confusa sobre a manifestação de seus próprios sentimentos ao confundir uma sensação de ansiedade com alegria, por exemplo.

Ter percepções sensoriais diferentes das pessoas típicas exige constante adequação da pessoa autista para evitar que isso lhe traga sofrimentos, mas em alguns casos essas sensibilidades podem ser usadas de modo positivo pra ajudar a identificar estímulos que outros não percebam em um ambiente de trabalho ou situações cotidianas.

O importante é conhecer quais são suas sensibilidades, como estas se manifestam e como se manter de modo mais confortável possível usando boas estratégias diante destas.

 

5. Interações sociais – comunicação

Algo que costuma marcar o estereótipo do espectro autista é que esta pessoa é incapaz de olhar nos olhos durante uma conversa, que não conhece as convenções sociais e que gosta de estar sozinho. Isso não é verdade, principalmente para autistas diagnosticados tardiamente. Pois essas pessoas foram aprendendo como deveriam agir para ter uma conversa agradável, como criar relacionamentos e assim adquiriram muitas dessas habilidades, gostando muitas vezes de interações e eventos sociais.

Contudo, como essas percepções sociais não são adquiridas de modo mais instintivo como é nas pessoas típicas, essas aquisições costumam causar desconfortos, dúvidas e uma sensação de não pertencimento. Principalmente quando a pessoa se força a interagir mesmo quando isso a deixa desconfortável por causa de suas sensibilidades sensoriais, ou ir contra sua necessidade de previsibilidade, ou mesmo quando não compreende as intenções por trás de um comportamento alheio. E esse constante monitoramento de como se deve agir causa esgotamento e outros transtornos mentais.

Além de que esse modo diferente de compreender as interações sociais pode gerar dificuldades no trabalho, escola e relações pessoas. E a pessoa com TEA sente-se incapaz e perdida. A psicoterapia vem como auxilio não apenas como treino de habilidades sociais (saber como agir em cada situação), mas principalmente em dar voz a pessoa autista para que ela possa descobrir formas de interação que melhor funcionem para ela sem que precise deixar de ser ela mesma. Ou seja, saber comunicar para se fazer entender sem precisar anular-se.

 

Essas são algumas poucas características, mas cada pessoa é única sendo autista ou não. E por isso o mais importante é o autoconhecer-se e a partir disso organizar sua vida para que seja mais confortável, mais equilibrada e feliz. Receber o diagnóstico de TEA não te torna uma pessoa incapaz, pois você já superou muito ao seguir sua vida sem ajuda.

Agora, aos poucos você irá se apropriando de suas características únicas. E irá perceber que muitas dessas podem não ser mais um sofrimento quando você criar as estratégias adequadas para lidar com estas. Buscar ajuda de um profissional que conheça as particularidades do TEA e te ajude nessa caminhada te tratando com respeito e validação são essenciais para um bom começo.

 

Quer saber mais como a psicoterapia pode ajudar a pessoa com TEA? Leia aqui.

Se estiver procurando por uma psicóloga para lhe ajudar nessa caminhada, mande uma mensagem para mim.

Abraços, Shana Giulian Conzatti.

 

Deixe uma resposta