Você já ouviu falar que aos 2 anos de idade o bebê se transforma? Muitas mãe se apavoram, pensando estarem fazendo algo errado, quando de uma hora para outra aquele bebê sossegado e carinhoso vira em gritos, birras e choros incessantes. Mas saiba que essa é uma fase chamada por muitos de adolescência do bebê, ou seja a crise dos 2 anos de idade (o terrível dois anos).
É uma fase que exigirá muita paciência e pulso firme, e faz parte natural do desenvolvimento infantil.
A crise dos 2 anos de idade: Adolescência do bebê
A crise tem início quando começam a ser frequentes comportamentos de irritação, mau humor, birras e a presença constante da palavra “não” no vocabulário da criança. Isto faz parte do processo exploratório do ambiente, pois é nessa idade que aquele bebê totalmente dependente dos adultos começa ter mais autonomia.
A partir dos 2 anos, a criança já consegue se expressar e tem bom vocabulário. Frases como “eu quero” ou “é meu” passam a ser usadas constantemente, e a criança começa a testar as possibilidades e a querer escolher coisas mesmo contrária a vontade dos pais.
Ou seja, é um momento de constantes birras em que a criança irá testar para saber quem tem o controle da situação (ela ou os adultos). Algumas crianças podem passar de modo mais tranquilo por essa fase enquanto outras se transformam completamente. Comumente, ocorre entre 1 ano e meio (18 meses) e 3 anos(36 meses) de idade, embora não seja raro se estender até os 4 anos de idade.
Dicas para lidar com o terrível 2 anos:
Educação e paciência:
É a partir do 2 anos que começa o processo de educação mais intenso, antes o bebê está em um processo de maternagem (acolhimento e conhecimento de seu corpo). Sendo assim, com os 2 anos de idade é essencial que já se inicie os ensinamentos do que pode ou não, o que é certo ou errado. Este é um trabalho árduo que demanda tempo, repetição e paciência tanto para os pais como para as crianças assimilarem.
Desse modo quando a criança está diante de novas regras ou de impossibilidades (de pegar algo ou comer) ela irá demonstrar sua insatisfação com gritos, birras, choros e, por vezes, tentativas de bater ou morder. E são nessas horas que os pais precisarão de mais paciência para contornar o comportamento ao mesmo tempo em que não permitam que o filho tenha tudo que deseja.
Por vezes é mais fácil apenas acabar os choros e birras ofertando ao bebê aquilo que foi o motivo inicial da discórdia, contudo isso além de fazer a crise durar mais tempo, também criará uma criança mais velha e depois um adolescente com muitas dificuldade de limites que serão mais difíceis de resolver. Por isso tenha paciência e foque na educação de seu pequeno.
Dicas práticas de como agir diante da adolescência do bebê:
DURANTE A CRISE (CHORO E BIRRA):
Nesses momentos não adianta chamar a atenção do filho, ou seja, falar mais alto, bater, colocar de castigo ou algo do gênero. Pois só fará todos ficarem mais nervosos e a criança poderá relacionar que conseguiu atenção dos pais por estar fazendo “fiasco” e repetir o comportamento com mais frequência.
O ideal é ter sangue frio e esperar a criança parar de chorar, gritar ou se debater. Caso esteja em um local público, a pegue no colo sem conversa, gritos ou carinho e a leve para um local seguro, como o carro ou um banco, fale que só irão conversar com qual parar e aguarde até que pare de chorar por si. Quando a criança finalmente se acalmar pontue para ela de modo simples que você não gostou desse comportamento, e que este a fez não ganhar o que desejava ou a ter que sair de um local que queria ficar.
Esse comportamento de ignorar as birras pode ser difícil para muitos adultos, contudo é um modo mais garantido de acabar com as birras. Elas irão se repetir mais algumas vezes, mas quando a criança perceber que não recebe nada com elas (nem atenção positiva ao ganhar algo ou negativa), as crises vão ficar cada vez mais raras.
O ideal é trabalhar na prevenção da birra, ensinando à criança estratégias emocionais e quais são as regras.
EDUCAÇÃO É REPETIÇÃO E COMPREENSÃO:
Uma criança de 2 ou 3 anos não entende muito bem o significado da palavra “não”. Por isso, não estranhe se ela fizer o contrário do que lhe for pedido. Na prática, a criança pode não entender exatamente o que querem dela. Desse modo é necessário explicar-lhe os motivos da negativa, de modo curto e fácil de ser compreendido.
Por exemplo: Você NÃO pode subir aí por que vai cair. Não vou te dar esse doce agora, só depois da comida. Não iremos comprar esse brinquedo, pois combinamos assim.
Ao repreender um comportamento errado (de birra), após passar a crise, mantenha a calma. Evite gritar ou fazer acusações como: você é tão malcriado, como você é feio fazendo isso… E sim, tente demonstrar que o quê está errado é o comportamento. Baixe na altura da criança, e fale olho no olho como você ficou triste com o comportamento, e que entende que a criança está frustrada por querer algo, mas que nem sempre podemos dar.
Ajude a criança a aprender a lidar com a frustração ao incentiva-la a continuar em algo que anteriormente não consiga, como a terminar de encaixar peças em um brinquedo mesmo que sinta dificuldade. Ofereça ajuda para que a criança consiga finalizar a tarefa. E deixe que tente fazer algumas coisas sozinhas, como tentar limpar uma água que tenha virado do chão, mesmo que o adulto tenha que retocar depois para limpar bem.
LIDANDO COM COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS:
Algumas crianças, nessa fase, podem reagir com tapas ou tentativas de mordidas quando estão com raiva por terem sido contrariadas. Não adianta gritar ou bater na criança, pois ela ainda está aprendendo o quê pode ou não. E irá seguir os exemplos das ações dos pais.
Desse modo, impeça o movimento da criança ao segurar sua mão ou afastar sua boca. Olhe com expressão brava e diga de modo firme que não gostou disso e que não irá aceitar esse comportamento. Se a criança insistir afaste-a, de modo que ela perceba que não conseguirá sua atenção e não o que deseja. Nunca permita que seu filho fique lhe batendo ou mordendo, agora ele é pequeno e depois, como será quando ele aprender que recebe tudo que quer como violência?
APRENDIZADO DE CONTOLE DAS EMOÇÕES:
Converse com seu bebê nomeando as emoções, por exemplo, quando ele estiver bravo ou frustrado comente: Entendo que está chateado por não ganhar o brinquedo, mas agora não tenho dinheiro. Ou nesse momento não é possível fazer tal coisa. Vá mostrando para a criança que não é errado ela ter aqueles sentimentos e que você a compreende, mesmo que não irá fazer o que ela quer no momento.
Ajude também a criança a ir manifestando as emoções de modo mais adequado. Como, sei que ficou triste, mas não morder o colega não resolver. Ou se jogar no chão. Quando você ficar triste, pode abraçar uma almofada, pode sair de perto ir para o quarto ver desenhos… Mostre alternativas de comportamentos, assim a criança vai criando aos poucos novas formas de expressar-se sem ser através de birras e choros.
NEGOCIE, MAS NÃO CEDA AOS CAPRICHOS:
Nem tudo precisa ser negado, afinal a criança está desenvolvendo sua autonomia e percepção das coisas que gosta ou não. Por isso, deixe em alguns momento que a criança escolha sua comida, sua roupa ou se quer fazer ou não algo. Desde que ela não esteja em uma crise de birra, nesse caso aja como indicado anteriormente.
Mas quando a criança começa a se irritar por querer escolher algo, converse com ela e faça combinados: Tudo bem, você pode escolher a cor da roupa, mas está frio e precisa ter um casaco. Tudo bem, vamos na casa da vovó, mas você precisa sentar na cadeirinha. Não negocie coisas que sejam ruins para a segurança de sua criança. Para essas fale que não é possível fazer, explique o por que, e faça o certo, mesmo que a criança chore.
Acostume-se a sempre que ir a supermercado ou a uma loja, antes de sair de casa conversar com a criança sobre o programa (iremos comprar algo, vamos lanchar, vamos…..) e já adiante que ela não poderá comprar nada ou que pode escolher apenas uma coisa. Pois isso ajudará na assimilação da mensagem do que pode e do que não pode ser feito. E posteriormente caso haja uma crise, você retorna ao combinado: Lembra que falamos que não iriamos comprar nenhum doce hoje?
Também nunca ofereça recompensas em troca de bom comportamento. Evite atitudes como “se você ficar quieto eu lhe dou um doce/brinquedo”. Já que isso acostumará seu filho a só se comportar se ganhar algo.
Em resumo, apesar dos seus bebês terem mudado de comportamento e que essa mudança nem sempre seja fácil, é um processo natural da idade. No qual, estão descobrindo o mundo por seus próprios sentidos e decisões; se tornando pessoas mais independentes, com opiniões, desejos e comportamentos diferentes. Contudo ainda são pequenos e precisam dos adultos para lhes mostrar o caminho e que os ajude a se tornarem pessoas completas.
Abraços, Shana Conzatti
Psicóloga – Terapia Cognitiva Comportamental e Terapia do Esquema – atendimento online de psicoterapia destinada à mulheres (mães ou não). E consultora de Educação e professora há mais de 25 anos. Criadora de materiais didáticos para professores e terapeutas. Autora de livros.